Porto, 6 de Setembro de 2010
Esta foi uma semana mediaticamente intensa com a leitura do acórdão do processo Casa Pia, o mais longo da justiça portuguesa. O julgamento que se iniciou a 25 de Novembro de 2004 conta com 461 audiências em três tribunais e com o depoimento de 981 pessoas, no entanto, foi finalmente lido o acórdão a 4 de Setembro de 2010.
O processo foi mediaticamente empolado por constarem na lista de arguidos figuras públicas como Carlos Cruz e Paulo Pedroso, falando-se ainda de Herman José e António Ferro Rodrigues. Aliás, politicamente o processo Casa Pia teve sérias repercussões no seio do PS resultando na consequente demissão do seu secretário-geral, Ferro Rodrigues. Porém, face à mediatização do processo é nos hoje fácil concluir que os media não contribuíram em nada para a dignificação da justiça portuguesa, bem pelo contrário, ajudaram sempre ao abalroamento do Estado de direito sem dó nem piedade prestando um contínuo e ininterrupto mau serviço ao portugueses.
No entanto, ainda depois do desfile carnavalesco a que assistimos no Campus da Justiça, em Lisboa, há perguntas a responder: Depois de tantos anos foi feita justiça com as vítimas? Foram condenados os culpados? Ou foram condenados os inocentes? A resposta é fácil e unívoca – é lamentável o ponto a que chegou a justiça portuguesa. Deste modo, presenciámos, como sempre, impávidos e serenos à demolição do Estado de direito, roubando-nos progressivamente a liberdade, obrigando-nos a viver de sob a tirania da cunha, conquanto os mesmos sofistas de sempre nos saibam dar lições do 25 de Abril de 1974.
Enfim, nada melhor conclui o meu sentimento do que esta citação de Edmund Burke: “entre um povo geralmente corrupto a liberdade não pode existir por muito tempo”.