Porto, 4 de Novembro de 2010
Hoje, tive a oportunidade de assistir ao segundo dia de debate do orçamento, bastante diferente do primeiro que ficou marcado por alguma crispação entre os partidos de direita e o governo, principalmente entre Paulo Portas e José Sócrates. Contudo, no dia de hoje, a ex-líder social-democrata, Manuela Ferreira Leite, saltou da fila dos bastiões adormecidos para fazer uma intervenção dirigida a todos os quadrantes políticos. Assim, foi com silêncio e respeito que o parlamento ouviu as palavras da única pessoa que dentro da política activa vinha alertando para a calamidade das contas públicas, e que lhe custou as eleições legislativas.
Manuela Ferreira Leite durante a sua intervenção aludiu à posição de responsabilidade tomada por esta nova direcção do PSD e preveniu o parlamento para não dar a mínima margem de erro à execução orçamental, como tem acontecido sucessivamente até então. Mas a ex-líder reafirmou também alguns valores desconhecidos para a classe política, como falar verdade aos portugueses.
Todavia, o frenesim de esquerda não tardou em tentar derrubar este bom discurso de Ferreira Leite, tornando-o numa intervenção inequivocamente irrepreensível do ponto de vista político. Mas, nem os truques de Francisco Louçã, nem o discurso inflamado dos comunistas diminuíram o humor de Ferreira Leite.
O “momento Ferreira Leite” foi sem dúvida um momento de grande elevação política. Porém, José Sócrates não tardou em fazer malabarismos retóricos com as palavras de Ferreira Leite e conclui insolentemente que “finalmente tinha sido ouvido”. Aliás, temo que o tal “eu curioso” do primeiro-ministro só tenha compreendido agora a mensagem de Manuela Ferreira Leite, quando o deficit e desemprego estão acima dos 9% e 10% respectivamente e o tempo é escasso para repor a ordem nesta casa portuguesa.