Durante a semana passada dediquei o meu tempo livre a ler dois livros de Eric Arthur Blair, escritos sob o pseudónimo de George Orwell, são eles duas das suas obras mais importantes: O Triunfo dos Porcos e 1984.
Começo pelo primeiro. Sem dúvida um dos melhores livros do século XX, pela simplicidade e imaginação da crítica ao regime soviético. A sátira recorre à figura de animais para narrar uma história de traição, onde é executada uma revolução contra o dono da Quinta Manor, Jones, em prol de um sonho onde “todos os animais são iguais” e têm melhores condições de vida. Contudo essa revolução viria a ser traída, passando no fim a serem “todos os animais iguais, mas alguns são mais iguais do que outros”. E neste ponto, na minha opinião, é nos possível estabelecer algumas analogias com os porcos, classe descrita como mais inteligente e que, portanto, assume o controlo da revolução. São elas: Snowball – Leon Tróski, e Napoleão – Estaline.
Quanto a Nineteen Eighty-Four, este romance narra a história de Winston Smith, em Londres, agora na Oceânia, algures por volta de 1984. Nesta obra é apresentado um cenário de ficção política e social, onde é descrito o dia-a-dia de um regime totalitário, em que o Partido e o Estado se confundem à semelhança dos regimes soviético e nazi. Poderíamos mesmo dizer, de modo algo abusivo, que é uma transcrição prática do Contrato Social, de Jean-Jacques Rosseau. Onde o individuo abdica da sua liberdade para o bem comum, e deste modo torna-se tão livre quanto os outros. Contudo, aqui mais uma vez alguns são mais iguais do que outros, e na estratificação da sociedade, temos os membros do Partido Interno, que usufruem de luxos inacessíveis e puníveis aos membros do Partido Externo, funcionários do Estado e/ou Partido, e os proles, população em geral, descrita como irracional e, por isso, invejados pelo personagem principal.
O Partido, regido pelo Grande Irmão (Big Brother), controla o passado, alterando conforme lhe convém a história, e com isso condiciona o presente e futuro, obrigando cada individuo a acreditar noutra realidade e se preciso o seu contrário, um processo descrito por «duplipensar». Simultaneamente, apresenta uma nova língua, quase que matemática, e que em si mesmo impede a crítica e aumenta o controlo sobre o livre pensamento e a critica, descritos muitas vezes como «crimideia».
Além disso, neste mundo de Orwell, seria possível vigiar cada individuo através de uma «teletela», e abdicação da sua liberdade chega ao ponto, em que por enquanto o casamento apenas serve para procriar, pelo Partido, mas num futuro até isso será impedido pelo partido, bastando a inseminação artificial, para impedir ainda mais qualquer emoção humana.
Estes dois livros são a meu ver de maior importância nos dias de hoje, pois o seu fácil entendimento permite-nos perceber um pouco do que foi o regime soviético, a reacção à morte de Kim Jong-il, e o quanto os regimes totalitários podem deformar o núcleo indivisível de cada individuo, que é a sua liberdade. Portanto, querer encetar por vias radicais conforme demonstram alguns resultados eleitorais na Europa do século XXI, não é apenas errado, é falta de respeito pela história daqueles que deram a vida por uma Europa livre de regimes totalitários.