Ontem tive oportunidade de ver excertos da intervenção do Primeiro-ministro, durante o debate quinzenal, e do ministro Miguel relvas, durante a comissão de inquérito. Apesar de Miguel Relvas ser Miguel Relvas, fiquei com a ideia de que realmente nada tem a ver com este caso das Secretas. Primeiro pela forma sólida, como ia respondendo às perguntas, muitas das vezes formuladas num tom inquisitorial; segundo porque me parece difícil que Pedro Passos Coelho comprometesse o seu governo e a sua palavra com este caso.
No entanto, a forma como Miguel Relvas respondia às perguntas, acusando um certo nervosismo, inerente, certamente, à pressão das mesmas, que punham em causa o seu bom nome, mais todo este caso que já fez dele um ministro “semi-morto”, poucas dúvidas me deixou quanto às ameaças que supostamente fez à jornalista do Público. E este sim parece-me ser o único ponto em que Miguel Relvas tem culpa, mas que teve a oportunidade de se refugiar por ser a sua palavra contra a da jornalista, para além de em todo este caso este parecer inequivocamente algo menor.
Contudo, penso que a comissão de inquérito e a comunicação social estão a fazer sobre este caso uma investigação condenável e vergonhosa, prendendo-se apenas a factos interessantes para a política cor-de-rosa. Pois, do que este caso das Secretas trata é algo muito mais grave do que os sms de Miguel Relvas, esta é pois uma guerra empresarial entre o grupo Impresa, de Francisco Pinto Balsemão, e a Ongoing, de Nuno Vasconcellos, que detém uma posição significativa na Impresa, e cujas relações pessoais são difíceis por motivos empresariais. Até aqui tudo é legítimo. Deixa-o de ser quando um antigo director do SIED, nomeado pelo governo socialista, e ex-administrador da Ongoing, Jorge Silva Carvalho, usa serviços da República para produzir dois relatórios sobre um jornalista do grupo Impresa, Ricardo Costa, e o empresário e fundador de uns dos principais partidos responsáveis pela democracia portuguesa, Francisco Pinto Balsemão.
Assim, importa não só averiguar, como isto foi possível, como esclarecer a nublosa que envolve esta empresa, Ongoing, que constantemente se vê envolvida em escândalos, como foi o da compra da TVI, que ficou famoso não só pelo alegado plano do anterior governo de controle da comunicação social, mas também pela intervenção do ex-deputado Agostinho Branquinho, na comissão de inquérito, que afirmou que ninguém sabia o que fazia essa empresa, a Ongoing, mas dois meses depois foi para lá trabalhar.
Está por isso claro que o comportamento do bloco central será impreescindivel para o apuramento de toda a verdade neste caso. Isto para não falar de que loja maçonica faz parte cada um dos intervenientes neste caso.